Nova forma de pensar e fazer Jornalismo Esportivo
- Podium
- 5 de nov. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 29 de nov. de 2018
O crescimento na quantidade e na qualidade desse meio abre uma nova porta para os jornalistas, principalmente aqueles que estão iniciando a carreira.

Autor(a): Raiedilly Silva e Gabriela Passos
Em tempos onde as grandes empresas de comunicação enfrentam uma crise econômica que leva à demissão de jornalistas, novas formas de pensar e de fazer comunicação representam esperança para os apaixonados pela profissão. A Internet e as redes sociais se apresentam como novos espaços para questionar a mídia tradicional em sites que defendem a prática jornalística independente. Não é diferente no jornalismo esportivo, onde sites, blog e podcasts têm renovando a prática profissional e lançado um novo olhar sobre o esporte.
O Blog Cassio Zirpoli, por exemplo, é um site dedicado aos clubes de futebol do Nordeste. Sua meta é atingir torcedores que, mesmo longe do Estado, possa está por dentro das informações do time do coração. “No começo só eram notícias sobre os times Pernambucanos mas, com o tempo, percebi que podia ir mais além e comecei a fazer matérias dos times do Nordeste”, explica o jornalista Cassio Zirpoli.
Cassio fazia parte da equipe esportiva do Diario de Pernambuco e tinha um blog no site do jornal desde 2008. No ano passado, ele deixou o jornal e lançou seu site com a proposta de dar ao leitor análises mais profundas sobre as partidas – algo extremamente difícil de encontrar nas grandes mídias tradicionais. Além disso, ele ainda traz curiosidades, estatísticas dos clubes, momentos históricos, vídeos, fotos e interação.

Antônio José, torcedor do Sport e leitor ativo do blog, comenta: “Conheci o trabalho de Cassio quando o Sport foi Campeão da Copa do Brasil, em 2008. Como sempre fui aquele tipo de torcedor que queria mais notícias do time, entrava no site para descobrir algo novo e hoje não é diferente, continuo entrando, principalmente agora na reta final do Campeonato Brasileiro’’.
A motivação para continuar crescendo, de acordo com Cássio, é ser uma referência há mais de 10 anos no Nordeste e sempre correr atrás de investidores e patrocinadores. “Até hoje mantenho o trabalho sozinho, nunca tive estagiário. Com isso, é preciso sair da sua zona de conforto de só escrever, você precisa ter noção de tudo, como editar uma foto, qual a estratégia de deixar a postagem mais atrativa, mas com o tempo você amadurece”, afirma.
Para Pedro Galindo, também jornalista, o mais importante para desenvolver um trabalho independente é ser um jornalista multimídia: “Meu conselho, seria tentar de tudo em termos de edição, de criação. Dominar o máximo de linguagens e ferramentas. O maior desafio, hoje, é se tornar um repórter multimídia, porque quanto mais multimídia for o seu projeto, mais rico vai ser sua linguagem e mais diferente vai ser o seu produto”, garante.
Doentes por Futebol, Revista Febre e o Box Out são alguns dos trabalhos de jornalismo esportivo independente de Pedro, que também teve passagens pela mídia tradicional e foi integrante da equipe de Esportes do Diario de Pernambuco. Hoje ele divide seu tempo entre o cargo como editor em portal comercial e suas iniciativas autônomas. Para isso, tem que abrir mão de boa parte do tempo livre para dar conta do trabalho.“O jornalismo independente tem suas dificuldades.Você não dorme muitas horas e se sacrifica muito. Uma revista dessa (box out), por exemplo, só três pessoas leram a última edição e eu passei a semana toda fazendo sozinho, você fica frustrado”, completa.
Imagens do site box out na versão mobile
Porém, para ele, a essência do Jornalismo Esportivo - o fomento do lazer, as histórias de superação, o esporte como transformador social, as críticas políticas, a transmissão de valores e fomento a saúde - não se encontram nos veículos tradicionais e o jornalismo independente é uma opção de liberdade para realizar pautas como se acha certo fazer. “Por isso você tem que continuar, tem que mostrar que sua ideia é forte. Tem que estudar para fazer a coisa acontecer e ter paciência porque existe essas dificuldades de você não ser levado a sério muitas vezes pelo mercado ou pelas assessorias de imprensa”, afirma Pedro.
Antes mesmo de pensar em ser jornalista, Galindo já tinha o Doentes por Futebol com outros amigos, das mais diversas profissões, que se conheceram através do Orkut. Na experiência com a comunidade de apaixonados pelo esporte, ele sentiu a necessidade de buscar mais conhecimento na área de comunicação para deixar o site mais completo e interessante. Para ele, a faculdade lhe proporcionou o conhecimento das mais diversas ferramentas e experiências, mas foi estagiando em jornais tradicionais de Pernambuco que ele aprendeu como o jornalismo esportivo é feito.
“Na prática, nos jornais, o grande aprendizado foi principalmente esquematizar, organizar e executar as pautas. Nos veículos você tem a supervisão do editor, tem um fotógrafo, tem um carro para levar... então você aprende muito como estruturar a pauta e aproveitar o máximo que ela tem a oferecer”, diz. “ Quando vi que o custo deles era com o papel, a tinta, a logística, comecei a pensar que existiam outros processos, outros caminhos que poderiam cortar esses custos e criar produtos competitivos”, completa.
Já a Revista Febre surgiu a partir do trabalho de conclusão de curso. “A proposta foi criar uma revista digital para preencher as lacunas do jornalismo esportivo tradicional, o tema era basicamente como é que o futebol serve como válvula de escape para meninos carentes que sonham em se tornarem atletas profisisonais, por exemplo”, afirma.
A revista é aberta e gratuita, com um serviço de assinatura que não entrega benefícios materiais aos seus assinantes. “Meu desafio é capitalizar esse negócio. Você se torna um apoiador porque acredita nessa ideia. Seu benefício é bancar um projeto que você acredita”.
Para Pedro Galindo um dos maiores desafios é ter dedicação exclusiva para os seus projetos independentes e para isso seria necessário que as pessoas se adaptassem a esse modelo de negócio, mais comum nos jornais independentes, onde você investe em um produto por que acredita que ele é bom e te traz benefícios.
Com esse objetivo é preciso conhecer bem seu público alvo, saber qual melhor forma de alcançá-lo, a melhor linguagem para se comunicar com eles e o que é possível entregar que não se encontra em outros lugares. “Assim, as pessoas têm vontade de que as outras conheçam, de passar a palavra”.
O Box Out, por exemplo, é voltado para o público que já assiste à NBA (National Basketball Association) e não tem tempo de procurar a imprensa americana ou não consegue por causa do inglês, fazendo uma espécie de curadoria de notícias do basquete norte-americano. “Você tem que saber onde quer chegar, o que quer atingir e para onde público tá indo. A NBA tem muito a ver com Twitter, se fosse outro tema seria outra rede social”.
“É preciso fazer uma equação de tempo e dinheiro e ver o que vale a pena fazer porque é preciso que você transforme sua ideia em uma possibilidade de negócio. É preciso arriscar nossas ideias e tirar elas do papel”, finaliza Pedro Galindo.
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