Remando contra a poluição
- Podium
- 8 de out. de 2018
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O rio Capibaribe, que carrega maus olhares por causa do lixo, é espaço de superação para os atletas de remo.

Repórteres: El Hana Filipides e Lara Salviano.
O rio Capibaribe é berço de inúmeras espécies, de marisco a siri mole. Em suas águas poucos se banham. Alguns evitam o mínimo contato com ele. O que se vê refletido é o tanto que o ser humano se importa com a natureza. Um rio que corta a cidade, possibilitando acesso fluvial e um intenso contato com o mangue. Mas quem se aventura a navegar por essas águas precisa estar atento a uma variedade de entulhos no meio do caminho. Geladeira, sofá e televisão fazem parte de uma enorme lista de dejetos encontrados ao longo do rio.
No Recife, a relação entre água e cidade existe desde um passado no qual as populações, não importa o nível de renda, estavam “juntas” e mais vinculadas ao Capibaribe, numa realidade onde havia uma verdadeira aproximação entre natureza e sociedade. Isso acontecia tanto do ponto de vista econômico, como social e cultural. Várias atividades humanas eram realizadas no rio, como a pesca, a busca por água potável, o tratamento de doenças, os banhos (lazer) e o transporte.
Hoje, quem utiliza o rio para a prática de remo teve que se adaptar às atuais condições dessas águas. Pedro Ricardo, integrante da equipe de remo do Clube Náutico da Rua da Aurora há nove anos, afirma que o remo torna-se um esporte relativamente caro devido aos barcos serem feitos de um material de fibra reforçado para enfrentar e resistir aos dejetos na água. Em relação ao rio, devido à poluição, muita coisa mudou. “Hoje em dia tem a rampa mas antes a gente tinha que entrar literalmente na lama e isso afastava muita gente. Ainda assim as pessoas que não conhecem e não têm muito contato com o esporte, quando têm interesse ficam com medo de entrar em contato com o rio. Mas é uma modalidade maravilhosa”, afirma.
Os treinos começam às cinco da manhã. O sol ainda nascendo, o rio calmo e a cidade sem barulho são motivos suficientes para atrair qualquer iniciante do remo. “Para algumas pessoas começar é um pouco difícil porque acham o rio sujo. Mas quem entra se apaixona, é uma sensação maravilhosa. A visão de dentro do rio é totalmente diferente de quem tá de fora. É difícil de explicar essa conexão entre a natureza e o remo”, garante.
Pedro Ricardo entrou no clube de remo do Náutico aos 16 anos. Por treinar todos os dias, praticamente morava lá. A partir do remo pôde conhecer mais do Brasil, devido a viagens para campeonatos. Graças a uma bolsa de estudos de 100%, conseguiu se formar em Educação Física pela Uninassau. Pouco tempo depois de formado, teve a oportunidade de fazer mestrado em remo, em Portugal. Hoje, aos 25 anos, integra o grupo de treinadores do clube onde havia se apaixonado pelo esporte há nove anos. “Tenho uma gratidão enorme com o remo. Desde o início a modalidade tem me ajudado. Foi crucial na minha vida até hoje, por tudo o que me proporcionou. Sou grato, muito grato”, diz Pedro.
A grande dificuldade de quem pratica é justamente o custo da modalidade. O pouco material que se tem é prioridade de quem está na competição porque o material está sujeito a ser danificado devido a quantidade de lixo de grande porte, encontrado em diversos trechos do rio e, por isso, o cuidado precisa ser dobrado.
O doutor em Geografia Claudio Jorge Moura de Castilho estudou o Capibaribe numa tentativa de esclarecer a importância das relações da água com o processo de construção do espaço urbano no Recife e acredita que para a retomada de atividades vinculadas ao rio é necessária uma articulação com os moradores que vivem às margens. “Nos últimos anos, é notável a retomada das obras de reutilização do rio Capibaribe, também, como via para o transporte coletivo articulando a rede hidrográfica à rodoviária. Porém, o projeto que pretende concretizar este programa precisa ser discutido com as pessoas que moram nas favelas e palafitas nas margens do Capibaribe”.
Para resolver essa questão, é necessária a revalorização da natureza, reaproximando ela da sociedade, tanto ao nível do pensar quanto ao da prática social, recuperando, de fato, as boas relações das águas com a vida das pessoas no espaço urbano local. Para isso, a força dos movimentos sociais pode fazer a diferença, na medida em que lutarem para que as populações, em sua totalidade, sejam efetivamente envolvidas novamente nos seus ambientes de vida.
Para mais informações de como e onde praticar a modalidade acesse: https://www.nautico-pe.com.br/ http://www.sportrecife.com.br/
Confira abaixo a entrevista com o campeão nacional da modalidade remo-indoor, Erik Lima.
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