Uma vida em função das outras
- Podium
- 19 de set. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de out. de 2018
Reportagem: Igor Alcoforado Fonseca
Em 1997, Hélio Ferreira, traçaria um caminho que mudaria não apenas a vida dele, mas a de muitas crianças que acreditam no seu trabalho. Tudo começou quando seu filho queria jogar futebol. À beira do campo, ele conta a história. “Estou vendo aquele pessoal ali na janela e estou imaginando meu filho. Ele ficava olhando para o campo embaixo do nosso prédio, mas não ia jogar futebol porque era muito tímido. Aí eu disse: ‘Vamos descer. Jogamos apenas eu e você’. Então começamos, mas de uma hora pra outra já tinham oito meninos no campo”, contou Hélio.

O que começou assim, do nada, cresceu em grandes proporções. Semanas depois daquele dia, Hélio já levava as crianças da comunidade onde morava ao Estádio Jefferson de Freitas, em Jaboatão, onde, seis meses depois, o grupo que ele formou, o HS Esportes, passou a ter 400 crianças. Hoje, aos 53 anos, Hélio já tem em seu currículo mais de vinte anos dedicados ao projeto.
No início, ele afirma não saber lidar com ps pequenos jogadores. Gritava, falava palavrão e chegou a receber críticas. “Falaram comigo que os meninos gostavam muito do meu trabalho, mas que eu não estava sabendo lidar com eles. Foi aí que procurei estágios, conheci professores e aprendi”, disse.
Hélio se arrepia ao falar do lixão da Muribeca, lugar onde foi convidado a fazer parte de um projeto para resgatar crianças que viviam naquela comunidade. “Chegando lá, nossa, era uma fedentina tremenda!”, exclamou. “Vi um menino, Anderson o nome dele, comendo o lixo. Abriu o saco e estava comendo o resto”, contava com indignação.

Ao se deparar com a cena, o treinador se comprometeu a ajudar Anderson. E foi o que ele fez, tirando o garoto do lixão e levando para o HS Espotes, projeto fundado por Hélio e que na época ainda ganhava forma. “Quando Anderson vinha para o projeto, começamos a dar comida a ele. Ele começou a estudar e, quando chegava da escola, almoçava conosco, depois fazia a recreação e dávamos outra refeição a ele, antes de ele ir pra casa”, lembrou Hélio. A história de Anderson, entretanto, não tem um final feliz. “Infelizmente ele acabou se envolvendo com o tráfico e eu perdi esse menino”, pausou emocionado.
O treinador compartilhou um momento dos momentos mais marcantes durante a sua trajetória. “Há três anos comprei um carro e fui pra uma reunião no bairro de Roda de Fogo. Ao sair, fui ‘trancado’ por traficantes do local. Uma das pessoas que foi me assaltar era tio de um menino que fazia parte do meu projeto. No momento em que tudo aconteceu, o menino estava na rua. Ele disse ‘Esse é o ‘tio’ do futebol, foi ele que me deixou jogar sem pagar nada quando o senhor (tio do menino) estava preso. O cara me pediu desculpa e mandou eu ir embora”, conta Hélio.
Atualmente, o treinador vive apenas das mensalidades dos alunos da escolinha. Ele dá aulas e treinos de segunda a sexta-feira. Apesar do projeto ter sido aprovado pela Lei de Incentivo ao Esporte, há mais de um ano, o HS Esportes ainda não tem patrocínio. “Há duas semanas, veio uma mãe com seis filhos e me disse ‘salve eles’. Os dois pais dessas crianças estavam presos e eu não tinham condições de pagar a escolinha. Começou, então, a batalha para conseguir ajudar essas crianças”, descreveu. “Hoje, já ajudo 300 crianças sem patrocínio, imagina com patrocínio. Eu vou mudar um bairro”, fala com entusiasmo.

Hélio se emociona ao relatar que o projeto é hoje a sua maior preocupação. “A gente aprende a querer ajudar as pessoas. O Hélio que antes pensava só em ajudar o filho, hoje tem quase 8 mil filhos que passaram pelo projeto. Todo dia recebo ligações de meninos que passaram pelo HS e isso me deixa muito grato”.
Quando perguntado como quer ser lembrado, ele se emociona, mas não titubeia. “Quero ser lembrado como alguém que ajudou as pessoas. Chega me arrepio”, finalizou.
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