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REPORTAGENS

A origem das torcidas organizadas na capital pernambucana

  • Foto do escritor: Podium
    Podium
  • 29 de nov. de 2018
  • 4 min de leitura

Autor(a): Gustavo Henrique e João Rego

Quando surgiram, na década de 1980, as torcidas organizadas do Recife tinham um único objetivo: Promover a maior festa possível. A competição se resumia a saber quem cantaria mais alto, levaria mais bandeiras, apoiaria e empurraria mais o time para frente. A intenção era simples: Apoiar o clube perdendo ou ganhando, independente da posição na tabela do campeonato.


"O comportamento pacifico começou a mudar quando os grupos de torcedores quiseram ter maior participação na vida social do clube”, afirma o doutor em Ciência do Desporto, Maurício Murad, no seu livro "Para entender a violência no futebol". Para Maurício, a situação passou a piorar a partir do momento que alguns torcedores cobravam a diretoria, dirigentes e cartolas visando melhorar os resultados do time, em vez de apenas incentivar os jogadores.


No fim dos anos 90, no entanto, as organizadas começaram a tomar rumos inimagináveis e incontroláveis. Naquele período, os recifenses viviam um forte processo de identificação com os bairros onde moravam. Segundo Maurício, o surgimento de movimentos como o Manguebeat de Chico Science e o crescimento dos bailes funks, que possuem grande influência social, são exemplos disso.


"De uma maneira geral, houve um entrecruzamento de um movimento juvenil surgido nos Estados Unidos, com uma forte identificação entre os jovens das periferias brasileiras e uma movimentação cultural surgida em Pernambuco", afirmou o cientista, em trecho do livro.

Numa primeira análise, estas questões não parecem ter nenhuma relação com o futebol. No entanto, mudaram drasticamente o modo de atuação das torcidas organizadas recifenses. "Há um grande crescimento do número das torcidas a partir dos anos 1990. A cada jogo havia uma torcida nova, representando um bairro específico. Com isso, há por um lado, o aumento das brigas, mas, por outro, há o reconhecimento das lideranças entre si e um incipiente processo de politização", comentou.


Com a proibição imposta pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), no início dos anos 2000, os jovens acabaram transferindo o seu lazer para as torcidas organizadas. Além das brigas internas dentro da própria torcida, a rivalidade clubística se tornou apenas uma fachada para a troca mútua de agressões. "Muitos participantes dos bailes funk, que não tinham mais como fazer parte daquela sociabilidade, migraram para as torcidas organizadas. Ou seja, a rivalidade que já existia entre os bondes, nos bailes, é reproduzida nas arquibancadas", disse.

Torcida Jovem - Sport


FOTO: ESCUDO JOVEM SPORT


Fundada em 1995 por Júnior Viana (Ex-integrante da Gang da Ilha), a Jovem conta atualmente com 275 associados. Segundo levantamento do ano de 2012 feito pelo MPPE, essa organizada é composta por 90 mil integrantes. O grupo conta com uma loja e uma sede, localizados no bairro da Boa Vista, no centro do Recife.





Inferno Coral - Santa Cruz


FOTO: ESCUDO INFERNO CORAL

Fundada em 1992, a Inferno Coral surgiu da fusão de três antigas torcidas do Santinha: Os Cobrões, Santamente e Força Jovem. A alusão ao nome "Inferno" é uma referência ao estádio do Arruda, verdadeiro caldeirão. Segundo a presidência da entidade, a torcida conta com cerca de 470 associados. Conforme levantamento do MPPE, os tricolores se aproximam de 80 mil integrantes. Possui sede própria e três lojas nos bairros do Arruda, Prazeres e Centro.


Torcida Jovem Fanáutico - Náutico



A Fanáutico nasceu no ano de 1984 com uma proposta de ser uma torcida mais atuante nas arquibancadas. Os cinco amigos (Murilo, Márcio, Ricardo, André e Antônio) resolveram inovar e criar um grupo voltado exclusivamente para jovens, daí o nome Torcida Jovem Fanáutico. Segundo a diretoria da entidade, atualmente possuem cerca de 300 associados. De acordo com o MPPE, engloba 20 mil pessoas. Possui loja física no centro do Recife.


Não é só violência: O Outro lado das torcidas organizadas


Foto: TORCIDAS ORGANIZADAS

No ano de 2016, 13 mortes foram ocasionadas em confusões envolvendo torcidas nos estádios de todo o país. No ano de 2017, até a 12ª rodada do Brasileirão, foram 9. Os dados são da Universidade Salgado de Oliveira (Universo). Casos como o do torcedor que morreu após ser atingido por um vaso sanitário no estádio do Arruda, no ano de 2014, chocam a população e reforçam a ideia de que as organizadas para nada servem além de propagar violência. Mas será que é esse o único intuito desses grupos?


Para o professor de história e pesquisador da área, além de torcedor assíduo do Santa Cruz, Esequias Pierre, a mídia recorta apenas o lado negativo das organizadas. "Não é só violência. Não é só confusão, não é só arrastão. Mas infelizmente a grande mídia mostra apenas isso, deixa todo mundo com medo. Na prática não funciona dessa forma, não é bem assim", alegou.


Foto: Esequias e TORCIDAS ORGANIZADA SPORT


Segundo Esequias, a torcida uniformizada possui, além do principal papel de apoiar o time, outros objetivos muito importantes "Empurrar o time pra cima, torcer é o fundamental, que toda torcida faz. Mas temos aqui no Recife, a questão da representatividade nos estádios. Existem torcidas voltadas só para mulheres, que é o caso das Timbuzeiras (Náutico) e das Coralinas (Santa). É uma forma de resistência, de dizer que lugar de mulher também é no estádio, de combate ao machismo", explicou o historiador.


O Náutico conta também com a "Timbu Queer", torcida organizada gay criada para combater o preconceito no futebol. "E não é só aqui, existem vários grupos de torcidas LGBT espalhados pelo Brasil, como é o caso da Galo Queer (Atlético-MG), Cruzeiro Maria (Cruzeiro), Bambi Tricolor (São Paulo), Vitória Livre (Vitória) entre várias outras", disse.

Quando questionado sobre o projeto de lei 1587/2015, de autoria do atual senador eleito pelo estado de São Paulo, Major Olímpio (braço direito do atual presidente), que pretende extinguir as torcidas organizadas, Esequias lamentou "É uma pena. Um retrocesso. Mais uma vez cito a mídia como grande influenciadora desse discurso. É preciso conhecer, saber como realmente funciona, buscar o outro lado da moeda. Pessoas só assistem jogos devido às organizadas. Minorias que se uniram para poderem assistir partidas do clube do coração. O futebol é para todos, as uniformizadas não podem acabar", finalizou.

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