Esporte na educação escolar e seus benefícios pedagógicos e sociais
- Podium
- 19 de set. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de out. de 2018
O esporte que enfrenta barreiras governamentais é ajudado por ONGs

Reportagem: Pâmela Melo
Nos últimos anos o papel do esporte tem ganhado força no âmbito educacional. A vivência de uma criança ou adolescente com o esporte transmite mais do que melhorias para a saúde física, sendo fundamental para o desenvolvimento integral dos estudantes, favorecendo a concentração, a capacidade de organização e de realizar trabalhos em grupo, especialmente na prática de esportes em equipe.
Na atividade esportiva também aflora o instinto de liderança e o atleta tem como propósito motivar os demais jogadores e atuar estrategicamente dentro de uma equipe. O esporte ainda traz consigo o aperfeiçoamento de habilidades motoras, desenvoltura corporal e, eventualmente, pode ser descoberta também a aptidão para a prática de uma atividade profissional.
De acordo com Rodrigo Falcão, professor e pesquisador na área de práticas esportivas educacionais, o esporte é um grande aliado no desenvolvimento infantil. Contudo, é preciso a interação entre a escola, a família e o esporte para ter o objetivo eficaz. “Para mim é uma grande falácia pensar que o esporte sozinho pode mudar a vida de um jovem. Porém, este aliado às áreas educacionais e sociais é fundamental para o crescimento não só profissional, mas como pessoa”, comenta.
Barreiras enfrentadas nas escolas públicas
Reconhecido mundialmente pelo sucesso no futebol, o Brasil conta com nomes de peso nos grandes clubes nacionais e internacionais. Contudo, a realidade para a prática deste e de diversos outros esportes no país está a quilômetros de distância do ideal no sentido de políticas públicas que garantam o acesso especialmente dos alunos da rede pública.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as escolas públicas do país não têm estrutura adequada para a prática de esportes. Campo de futebol, ginásio, piscina ou pista de atletismo só estão presentes em 27% das cidades brasileiras. Em escolas estaduais que recebem principalmente alunos do ensino médio, há 2.017 instalações esportivas em 1.217 escolas. Com baixos salários, muitos educadores são obrigados a submeterem-se a mais de três turnos diariamente, além de não possuírem o material mínimo necessário para as atividades.
Para Rodrigo Falcão, educador físico, as práticas esportivas são lembradas em último caso nos projetos governamentais: "No nosso país nunca existiu um plano de governo para o esporte. Verbas até são repassadas, contudo, os trâmites são complicadíssimos, muitas escolas desistem ou não conseguem verbas por não terem a autorização do Estado, assim essa quantia volta para os cofres públicos. Sem a presença de cursos de capacitação, baixos salários e uma péssima infraestrutura, o profissional de educação física não é valorizado, atingindo os alunos”.
Não se trata apenas de ceder espaços específicos, porém, é fundamental garantir que haja tempo nos currículos escolares para a reflexão sobre o corpo e as atividades esportivas.
Projetos que transformam vidas
Com o intuito de transformar a realidade de crianças e adolescente, diversos projetos sociais utilizam o esporte como ferramenta na educação e na integração social.
Como exemplo podemos presenciar o projeto “Aurora Basket Ball”, fundado em 2016 pelo publicitário João Paulo Farias e que através do basquete introduz jovens em atividades esportivas, além de incentivar a educação e a interação social. “O projeto nasceu pela necessidade da comunidade ao redor da Rua da Aurora. Como trabalho perto do parque, vivenciava muitos jovens que viviam marginalizados, quando soube que ia ter a criação de uma quadra eu comecei a idealizar o projeto”, afirma.
Apaixonado pelo basquete, o publicitário tinha como plano passar seus conhecimentos para todos que quisessem aprender. Ao longo do tempo, novos voluntários agregaram-se ao projeto e com o auxílio de um educador físico foi criado um time profissional de basquete com os próprios alunos.
Diversos patrocinadores auxiliam na manutenção da ONG. “Algumas empresas começaram a fazer parte do nosso time, uma delas é o curso Cultura Inglesa, que disponibiliza curso de inglês para os nossos jovens do time profissional. Isso faz com que muitos comecem a se interessar por mais do que apenas um jogo”, relata Farias.
Para João Paulo, o esporte é um meio de educar e disciplinar, além de mostrar novos horizontes: “sabemos que seguir uma carreira profissional no esporte é complicado, mas dentro de uma prática esportiva o indivíduo pode crescer como cidadão. Quando olho para trás, eu agradeço pelo esporte pela pessoa em que me transformei, devo a ele muito do que sou como profissional”, completa.
Como exemplo do esporte paralelo ao ensino podemos presenciar o projeto Santo Amaro. Nascido dentro da Universidade de Pernambuco, o colégio de ensino fundamental Ebert de Souza conta com aulas didáticas pelo turno da manhã e atividades esportivas no turno vespertino.
Fundado há 32 anos, o projeto Santo Amaro tem como alvo aproximar a universidade das comunidades, tendo como base os quatro pilares da educação: aprender a ser, fazer, conviver e conhecer; inserindo crianças e adolescentes no esporte.
De acordo com professor e coordenador do projeto, Rodrigo Falcão, as práticas esportivas têm a capacidade de ser uma ferramenta educacional: “O esporte tem o intuito de ser um instrumento para a educação. Nós temos um trabalho de formiguinha dentro do projeto. Ensinando uma modalidade esportiva e através desta transmitir valores morais, além de instigar o interesse dos alunos na educação. O exemplo que usamos são as funções do corpo humano em uma partida ou em uma corrida, por exemplo. Isso faz as crianças se interessarem pelo mundo da ciência de forma lúdica”, afirma.
Para Ana Claudia do Nascimento Silva, vice-diretora escola cidadão Ebert de Souza, as atividades esportivas são benéficas tanto para a saúde do aluno, quanto para a organização social das crianças. “Aqui na escola os alunos só têm ganhos com esse projeto. Vemos isso no comportamento. Eles passam o dia na expectativa para participar das práticas do esporte, atividade na qual podem extravasar todas as energias. O esporte na escola acrescenta tanto no âmbito pedagógico, quanto no físico e no social”, relata.
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